As primeiras análises do Estudo NutriNet Brasil, que envolveram os primeiros dez mil participantes da pesquisa, indicam um aumento generalizado na frequência de consumo de frutas, hortaliças e feijão (de 40,2% para 44,6%) durante a pandemia. Por outro lado, a evolução positiva na alimentação foi acompanhada por um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados nas regiões Norte e Nordeste e também entre as pessoas de escolaridade mais baixa. Esses resultados sugerem desigualdades sociais na resposta do comportamento alimentar à pandemia.
Na análise do consumo de alimentos não saudáveis, foram considerados 23 subgrupos de alimentos ultraprocessados incluindo refrigerante, suco de fruta em caixa ou lata, iogurte com sabor, salsicha ou hambu?rguer ou nuggets, presunto ou salame ou mortadela, pa?o de forma ou de cachorro-quente ou de hambu?rguer, margarina, batata frita congelada, entre outros. Nas regiões Norte e Nordeste, o número médio de subgrupos consumidos por pessoa aumentou em cerca de 10%: de 2,2 para 2,4 e de 2 para 2,2, respectivamente. Aumento semelhante também foi constatado entre os brasileiros de todas as regiões com escolaridade inferior a 11 anos de estudo.
"O aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, que aponta para uma piora na qualidade da dieta, preocupa", comenta o Professor Carlos Monteiro, coordenador do NutriNet Brasil. Enquanto o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados fortalece os mecanismos de defesa do organismo, o consumo de ultraprocessados favorece doenças crônicas que aumentam a letalidade da Covid-19. "Esse aumento do consumo de alimentos não saudáveis poderia estar refletindo a intensificação da publicidade desses produtos observada durante a pandemia", acrescenta.
Para essa análise, o Estudo NutriNet Brasil aplicou o mesmo questionário alimentar em dois momentos: entre 26 de janeiro e 15 de fevereiro (antes da pandemia) e entre 10 e 19 de maio (durante a pandemia). Foi questionado o consumo de uma série de alimentos no dia anterior ao preenchimento do formulário. Na amostra composta pelos dez mil primeiros participantes do estudo, constavam respostas de 290 pessoas do Norte e 1.122 do Nordeste, em sua maioria jovens adultos, de 18 a 39 anos (59,8%), mulheres (69,7%) e com nível de escolaridade superior a 11 anos de estudo (85,4%).
A motivação desta análise foi conhecer o impacto da pandemia de Covid-19 sobre o comportamento alimentar da população.
O recorte faz parte do Estudo NutriNet Brasil, lançado em janeiro de 2020, que tem como objetivo investigar a relação entre padrões de alimentação e o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis no Brasil. A pesquisa tem duração de 10 anos e irá acompanhar 200 mil pessoas.