O médico Rodolfo Cordeiro Lucas, suspeito de jogar a também médica e sua companheira Sáttia Lorena Patrocínio do quinto andar de um prédio em Salvador, disse que ela tinha "ideias suicidas". Em depoimento à polícia, Lucas relatou que ela "tomava remédio controlado e se automedicava". A família da médica nega.
O depoimento foi prestado à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), horas após a queda de Sáttia, no condomínio Serra do Mar, na segunda-feira (20).
Segundo informações da TV Bahia, que teve acesso ao relato feito à delegada Maraci Menezes Lima, ele contou que discutiu com Sáttia e, em seguida, ela foi para o quarto do apartamento e ficou "pendurada do lado de fora da janela, segurando com as mãos na borda da janela". Preso em flagrante na madrugada de segunda-feira (20) por tentativa de feminicídio, o médico disse que tentou resgatá-la, mas "infelizmente não conseguiu segurar".
Desde então, Sáttia está internada em estado grave no Hospital Geral do Estado (HGE), onde os dois prestam serviços.
Questionado se jogou a mulher da janela, ele disse ainda que "nunca faria isso" e relatou que os dois se conheciam há um ano e moravam juntos há seis meses. De acordo com ele, Sáttia fazia terapia e prescrevia suas próprias medicações. "Ela se medicava, se dopava", alegou, acrescentando que eles não tinham discussões pontuais, mas que ela "simplesmente surtava" e nessas ocasiões sempre o agredia fisicamente com mordidas, socos, tapas e ameaçava se jogar da janela e da varanda.
De acordo com a publicação, ao longo do depoimento, Lucas também apresentou sua versão sobre o que teria motivado a briga entre os dois. O médico conta que, na manhã de domingo (19), os dois foram para o hospital onde trabalhavam, cada um em um carro, e ele usou um caminho diferente do habitual. Com isso, Lucas disse que foi surpreendido ao ser fechado pelo carro de Sáttia na Avenida Pinto de Aguiar. Na sequência, ela teria descido do carro, o ameaçado de morte, ficado nua e tentado se jogar em um canal, que fica na avenida.
Nesse momento, Lucas afirma que conseguiu colocá-la dentro do carro, acalmá-la e aí os dois concluíram o percurso até a unidade de saúde, de novo cada um em um carro.
Já no hospital, segundo relato de Lucas, Sáttia contou a ele que não se sentia bem, que havia sido liberada para voltar para casa e o chamou para conversar dentro do veículo. Então, no carro, ele conta que teria sido agredido com mordidas e socos antes de voltar para o hospital, sendo seguido por ela. Nesse ponto, ele diz que pediu para a companheira descansar no hospital porque ela queria viajar para o interior dopada - a família da médica vive em um município no interior da Bahia.
Ele, então, disse que dormiu no hospital e que, ao acordar, por volta das 12h de domingo (19), já não a encontrou lá. Aí ele diz que ela teria "surtado novamente", mas o chamou para conversar no apartamento, jurando que "seria uma conversa pacífica".
No entanto, quando ele chegou em casa e os dois foram conversar, ela teria se exaltado e voltado a agredi-lo fisicamente, além de falar do pai dele, dizendo que não o havia apoiado - o pai de Lucas morreu há pouco tempo.
Depois de um tempo, a situação teria se acalmado, mas depois de os dois tomarem banho, Sáttia fazer uma oração e deitarem na cama, ele disse que ela tentou ter mais uma conversa e o agrediu com arranhões no rosto e na boca, murros, tapas e mordidas. Aí a médica teria corrido para a cozinha, onde pegou uma faca que ele conseguiu tomar de volta, e quando ia esconder o objeto, ela teria corrido para a varanda.
"Eu só ouvi ela me gritar: ‘Lucas, Lucas’. Eu fui para o quarto atrás dela e, quando cheguei, ela estava pendurada pelo lado de fora da janela, segurando com as mãos na borda da janela. Ainda segurei os pulsos dela para tentar fazer com que ela voltasse e gritando socorro", contou no depoimento, citando que um casal, que mora no apartamento 404, um andar abaixo, viu a situação e pediu que ele a segurasse pelo tronco.
A publicação indica que a polícia ouviu um vizinho que mora no quarto andar do edifício. O depoente declarou que tentou conversar com a mulher pela janela, quando viu que ela estava apoiada no parapeito e era segurada pelas mãos por Lucas, mas disse que Sáttia respondeu que não tinha mais forças.
Já a família refuta a hipótese de que ela teria se jogado. Uma prima da médica, Ariana Lorena, disse que a relação do casal "sempre foi muito conturbada, era um relacionamento muito possessivo, muito tóxico". Os parentes rejeitam também a ideia de depressão. "É muito estranho tudo o que aconteceu e tudo que está acontecendo. Ela não era depressiva. Ela não faria isso. Olha o histórico dela. É uma mulher bonita, 27 anos, médica, tem apartamento, carro próprio. Como é que ela poderia se jogar?", questionou outro primo, Anderson Moreira.
Com todas essas informações, a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) apura o caso. Sáttia segue internada e Lucas teve a prisão preventiva decretada.