A menos de um mês para a canonização de Irmã Dulce, cartas escritas pela futura santa foram reveladas pelas Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). A freira utilizava correspondências para fazer pedidos e agradecimentos.
O estabelecimento é do comerciante Abelardo Barbosa. O empresário, que hoje tem 83 anos, tinha costume de atender aos pedidos de Irmã Dulce.
Segundo Abelardo Barbosa, Irmã Dulce pegou a furadeira para usar em um curso profissionalizante que transformaria a vida de muitos jovens carentes. Rindo, ele lembra de diversos pedidos feitos pelo Anjo Bom da Bahia.
“Ela pedia assim: ‘Eu quero uma escada’. Eu mandava uma escada pequena e, chegava lá, ela me ligava e dizia: ‘Meu amigo, a escada ficou muito pequena’. Eu falava: ‘Devolva que eu mando uma maior’, mas ela dizia: ‘Não, porque eu vou ter serviço com essa pequena, mas me manda uma maior’”.
Em outra ocasião, Sr. Abelardo conta que a freira pediu um carrinho de mão.
Em uma carta escrita em setembro de 1974, Irmã Dulce contou para a irmã, Dulcinha, que caiu na região do Comércio e precisou ficar com a perna engessada entre 10 e 15 dias.
Era também através de cartas que Irmã Dulce aproveitava para dizer o que pensava, pedir pelos mais pobres e doentes ou para agradecer. Sentada em uma cadeira de madeira, que ficava no seu quarto, a futura santa escrevia para os familiares e amigos, aos domingos de tarde.
As cartas viraram relíquias e estão guardadas no museu das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). A instituição tem um projeto de disponibilizar as correspondências para os fiéis.
No acervo, são mais de 13 mil documentos entre fotografias, artigos de jornais, revistas e as cartas de Irmã Dulce
Durante o trabalho de catalogação, os funcionários da OSID usam luvas, para conservar as cartas.
Segundo a museóloga Marcela Avendano, que trabalha no acervo da OSID, as cartas mostram o amor que muitas pessoas sentiam por Irmã Dulce.
“De uma forma mais concreta, ela [as cartas] reproduz tanto os sentimentos das pessoas, da visão que já se tinha de Irmã Dulce, ainda em vida. A gente tem cartas que já viam ela como santa, tanto quanto, tudo aquilo que Irmã Dulce falou, discursou e fez. Você encontra isso nas cartas, nas suas ações, e ela faz o registro disso”, disse Marcela.
Hoje funcionário da OSID, Raimundo morou no orfanato de Irmã Dulce dos 12 aos 18 anos, depois que os pais dele morreram. Ele guarda uma das cartas que recebeu junto com outras crianças, antes de uma viagem.
“Queridos filhos, Deus os abençoe. Espero em Deus que façam boa viagem e que a mesma abra novos horizontes para vocês. Peço-lhes encarecidamente que honrassem o nome dos nosso colégio, comportando-se bem, obedecendo ao Marcos, ao Rocha e ao Zé Raimundo. Tratem bem o motorista. Sejam delicados com ele. Gostaria que todos juntos rezassem o terço, para que Nossa Senhora Mãe do Céu os proteja e fique contente com vocês. Ficarei rezando para meus filhos irem e voltarem em paz. Vão com Deus e Nossa senhora Mãe do Céu”.
A freira também recebia cartas, muitas delas de fora do país. A aposentada Consuelo Mascarenhas ajudou Irmã Dulce na tradução de várias correspondências escritas em alemão.
“Ela, conversando comigo soube que eu tinha vindo da Alemanha e me disse: ‘Olha, eu estou aqui com a carta da Caritas, em alemão, você pode traduzir?’. E eu naturalmente traduzi e levei para ela a tradução. Um tempo depois, de alguma forma a gente se reencontrou e então eu comecei a fazer um trabalho mais regular e sistemático. A partir de 1980, estávamos nesse trabalho de secretária, de fazer a suas cartas, as suas correspondências”, disse Consuelo.
Em agosto de 1980, Irmã Dulce escreveu a última carta para Dulcinha. No documento, a futura santa falou sobre doação, família, gratidão e sacrifício. Três meses depois, ela ficou doente e nunca mais se recuperou.