À medida que nos aproximamos do dia 20 de novembro, data que comemora o Dia da Consciência Negra e honra a memória de Zumbi dos Palmares, é crucial refletir sobre a importância dessa figura histórica e das conquistas do movimento negro brasileiro. Zumbi simboliza a resistência e a luta incansável contra a escravidão, personificando a força e a resiliência do povo negro na história do Brasil. As conquistas do movimento negro, impulsionadas por líderes como Zumbi, representam marcos importantes na busca por igualdade e justiça racial no país.
A relevância do Dia da Consciência Negra vai além da celebração de um momento histórico. Ela nos lembra que a luta antirracista não deve se restringir a um período específico do ano, mas sim ser uma prática constante e diária. Este compromisso com o antirracismo é uma obrigação de todos e todas incluindo os não negros e não negras. A conscientização e ação antirracista devem ser integradas em nossa vida cotidiana, refletindo nossa dedicação contínua à causa.
As relações sociais no Brasil foram profundamente marcadas por séculos de escravidão, que deixaram um legado ainda não superado. Essa história desenhou cicatrizes que se manifestam nas desigualdades persistentes entre brancos e negros e nos privilégios detidos pelos primeiros. Apenas através de políticas de reparação e uma luta incansável contra o racismo podemos começar a diminuir essas disparidades e desmontar o abismo social que ainda hoje existe.
É imprescindível refletir sobre o pacto da branquitude, uma noção articulada pela psicóloga Cida Bento. Este pacto refere-se a um acordo tácito entre indivíduos brancos para manter e perpetuar privilégios raciais, muitas vezes de forma inconsciente. Cida Bento argumenta que o pacto da branquitude se manifesta em diversas práticas sociais e institucionais, mantendo estruturas de poder que beneficiam os brancos e perpetuam a desigualdade racial. Reconhecer e desmantelar esse pacto é um passo crucial na luta antirracista. Envolve uma conscientização por parte dos brancos sobre seus privilégios e uma atuação ativa para mudar as estruturas existentes que sustentam a desigualdade.
O racismo no Brasil se manifesta de maneiras variadas. Desde práticas explícitas de segregação até formas mais sutis e sistêmicas de discriminação, ele se faz presente em nossa sociedade de maneira profunda e complexa. Compreender as facetas do racismo estrutural e individual é crucial para identificar suas manifestações e combatê-las efetivamente.
O racismo estrutural reside nas interações de sistemas sociais, práticas, ideologias e programas que perpetuam desigualdades raciais. Transcendendo as ações e intenções individuais, ele se enraíza nas nossas instituições. No âmbito estatal, líderes como o presidente Lula e o governador Jerônimo Rodrigues fortalecem e intensificam políticas de reparação e de combate à desigualdade. Mas ainda há muito a ser feito.
Já o racismo individual é mais facilmente identificável, mas não menos prejudicial. No Brasil, se manifesta nas crenças, atitudes e ações preconceituosas de brancos contra outras raças. As piadas racistas, o olhar enviesado, a negação ou dificuldade do acesso a negros, indígenas e outras minorias a determinados espaços, o desprezo e a segregação são atitudes que temos no dia a dia e que são absolutamente nocivas. Até mesmo obrigar pessoas a usarem apenas o elevador de serviço ou a porta dos fundos torna-se inaceitável, pois isso cria uma diferenciação entre seres humanos que é absolutamente falsa.
A ativista e acadêmica estadunidense Angela Davis ressalta a importância global da luta antirracista, afirmando que em um mundo onde o racismo ainda é uma realidade persistente, não podemos nos limitar a ações simbólicas e efemérides. A verdadeira mudança exige que desafiemos constantemente as estruturas de poder e as políticas que perpetuam a desigualdade racial. A luta antirracista é uma luta contínua, que requer ação e reflexão constantes, não apenas em momentos específicos, mas todos os dias.
A luta contra a desigualdade exige um esforço contínuo e multifacetado de toda a sociedade. Educando-nos, desafiando nossas perspectivas e apoiando políticas e práticas antirracistas, podemos avançar significativamente rumo a uma sociedade mais justa e igualitária, onde a cor da pele não determina o acesso a oportunidades, justiça e dignidade.
A responsabilidade pela luta contra o racismo é coletiva, e somente através de esforços conjuntos e uma dedicação diária à causa, poderemos aspirar a um mundo livre de preconceitos e discriminação. Que ações e sentimentos explicitados no Novembro Negro ganhem espaço no nosso cotidiano.
Por: André Curvello