Em uma abordagem histórica, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) recenseou pela primeira vez a população quilombola com base na auto identificação.
Os dados, divulgados nesta quinta-feira (27), revelam que o país tem 1,3 milhão de quilombolas, sendo a Bahia o estado com a maior população: 397.059. O número representa 2,8% dos residentes do estado, que abriga cinco das dez cidades do país de maiores populações quilombolas: Senhor do Bonfim, Salvador, Campo Formoso, Feira de Santana e Vitória da Conquista.
Engana-se quem acredita que os quilombos se resumem ao conceito amplamente disseminado. Mais do que um lugar de fuga para os negros escravizados tornaram-se espaços onde o povo podia dedicar seus conhecimentos, outrora anulados pelos colonizadores. Comunidades organizadas, com diversas formas de trabalho.
A historiadora Clara Ferrão explica que os quilombos foram os primeiros locais sociáveis encontrados pela população negra brasileira. “Era um espaço de acolhimento. Ali as mulheres que antes temiam ter filhos que seriam escravizados, passaram a sentir vontade de construir uma família”, afirma.
Realidade
Com a inclusão dos quilombolas no Censo do IBGE, a esperança é de que os números mais fidedignos possam acarretar em Políticas Públicas, necessárias para a população. As comunidades amargam o descaso, com ausência de direitos básicos, assim como seus ancestrais. “Aqui falta tudo. Não temos transporte, escolas ou posto de saúde”, relata Regiane Rodrigues, líder do Quingoma, localizado em Lauro de Freitas, ao Metro1.
Na última quarta-feira (26) o quilombo foi sede de uma reunião entre comunidades de 40 cidades do estado e a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), Rosa Weber. Segundo Regiane, a promessa do governo é criar um grupo de trabalho com representantes quilombolas.
Após a divulgação dos dados do IBGE, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, afirmou que o país precisa adotar as medidas necessárias para assegurar direitos e oportunidades para os quilombolas.
Os problemas também são citados por Rosemeire, líder do Quilombo Rio dos Macacos, em Simões Filho. A comunidade vive um impasse com a Marinha do Brasil, o que a levou a fazer um apelo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante sua visita a Salvador, em maio. “Quando a gente fala da falta de políticas a gente fala de uma criança que precisa andar mais de 7km para ir e para voltar da escola”, conta ao Metro1.
Clara Ferrão explica que as condições vividas por esse povo são consequências do processo de escravidão, que moldou a sociedade brasileira. “A gente segue não reconhecendo essas pessoas e não dando o que elas precisam. Elas vivem abastadas, são pessoas extremamente inteligentes, mas a maioria sequer tem letramento. A palavra que melhor define essas comunidades segue sendo: ‘Resistência’”, declara a historiadora.
Rosemeire, chefe como Tereza de Benguela e tantas outras, finaliza a conversa com uma mensagem de esperança. “Hoje nós temos sete jovens na faculdade e uma idosa. Sou analfabeta, só tenho a sabedoria dos mais velhos, mas um dia vamos poder escrever a nossa própria historia”.