Após a atriz Klara Castanho denunciar ação de enfermeira que ameaçou vazar para a imprensa informações sobre entrega para adoção de bebê fruto de estupro, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) anunciou que vai apurar o caso.
Em nota oficial, o Cofen afirmou que “manifesta profunda solidariedade à atriz Klara Castanho, que, após ser vítima de violência sexual, teve o seu direito à privacidade violado, durante processo de entrega voluntária para adoção, conforme assegura o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)”.
O conselho garantiu ainda que “tomará todas as providências que lhe couber para a identificação dos responsáveis pelo vazamento de informações sigilosas pertinentes ao caso”. “Casos assim devem ser rigorosamente punidos, para que não mais se repitam. Da mesma forma, devem ser execrados comunicadores que deturpam a função social do jornalismo para destruir a vida das pessoas. Vida privada não é assunto público”, concluiu.
ENTENDA O CASO
Em entrevista a Danilo Gentili, no programa The Noite exibido em 16 de junho, Leo Dias citou o caso sem citar nomes e classificou como “história de trama inacreditável”, ao ser questionado pelo apresentador se tinha alguma “fofoca pesada” que não tivesse publicado.
O colunista contou que o caso em questão é relacionado a “uma pessoa que está enganando todo mundo” e “envolve vidas”. Leo Dias considerou como “maldade” e afirmou ainda que “a conta” iria chegar.
Depois das insinuações, a gravidez de uma ex-atriz mirim da TV Globo foi explorada em uma live na última sexta-feira (24), na qual Antonia Fontenelle diz saber da história “de uma atriz global de 21 anos, que teria engravidado e doado a criança para adoção”. Embora não tenha citado a atriz nominalmente, ela deu várias pistas sobre a identidade de Klara Castanho, a quem acusou de cometer “abandono de incapaz”.
O caso logo ganhou repercussão, até que a artista decidiu se pronunciar, por meio de uma carta aberta, na qual revela ter realizado processo legal de entrega voluntária para adoção, após ser vítima de estupro. No texto, que ela classifica como relato mais difícil de sua vida, ela diz que não pode silenciar “ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e um trauma” que sofreu.
“Fui estuprada. Relembrar esse episódio traz uma sensação de morte, porque algo morreu em mim. Não estava na minha cidade, não estava perto da minha família nem dos meus amigos”, contou a atriz, que disse ter se sentido envergonhada e culpada e por isso não registrou boletim de ocorrência.
Ela explicou que após o abuso sexual tomou a pílula do dia seguinte e manteve a história na esfera privada, com conhecimento apenas dos seus familiares. Ela contou, entretanto, que após meses do ocorrido se sentiu mal e acabou descobrindo a gravidez em estado avançado. “Foi um choque, meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Eu não tinha ganhado peso nem barriga”, relatou a artista, lembrando que sofreu novos abusos durante a consulta, tendo sido obrigada pelo médico a ouvir o coração do bebê.
“Naquele momento do exame, me senti novamente violada, novamente culpada. Em uma consulta médica contei ter sido estuprada, expliquei tudo o que aconteceu”, contou a atriz. “O médico não teve nenhuma empatia por mim. Eu não era uma mulher que estava grávida por vontade e desejo, eu tinha sofrido uma violência. E mesmo assim, o profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo”, lembrou.
Ela contou ainda que pouco depois do parto, ainda sob efeito de anestesia, foi ameaçada por uma enfermeira, que disse que levaria o caso à imprensa. “Quando cheguei no quarto, já havia mensagens do colunista, com todas as informações. Ele só não sabia do estupro. Eu conversei com ele, expliquei tudo o que tinha me acontecido”, contou Klara Castanho, sem citar a identidade da pessoa que lhe procurou.
A atriz disse também que outro colunista entrou em contato, com informações sobre o caso e afirmou que o vazamento mostra que os profissionais que deveriam lhe proteger no momento de vulnerabilidade “não foram éticos, nem tiveram respeito por mim nem pela criança”, além de terem desrespeitado a obrigação legal do sigilo a respeito da entrega para adoção.
Veja a carta aberta: