De acordo com Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia de 2019, vivem na Bahia 10 mil dos 140 mil pacientes renais crônicos existentes no Brasil. Deste total, aproximadamente 8 mil necessitam se descolar de suas residências, às vezes de suas cidades, para se submeterem às sessões de hemodiálise até três vezes por semana, uma exposição que, em tempos de pandemia, eleva de 5 até 20 vezes, de acordo com estudos, os riscos de infecção pela Covid-19 a um grupo já listado como suscetível a apresentação de quadros graves e óbito em decorrência da doença.
A imposição do deslocamento é um dos argumentos apontados pela Sociedade Brasileira de Nefrologia para o pedido de inclusão dos pacientes renais crônicos no grupo de prioridades para a vacinação contra a Covid-19. A mobilização tem sido feito em nível nacional, com recomendação encaminhada ao Ministério da Saúde, mas também em âmbito regional, a exemplo da pandemia, como explica o médico José Moura Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia – Regional Bahia.
De acordo com Neto, a sociedade aguarda resposta a um segundo apelo enviado à Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab) em 8 fevereiro. A entidade já havia acionado a pasta em janeiro, mas obteve resposta negativa ao pedido.
De acordo com o Plano Nacional de Imunização (PNI) os pacientes renais crônicos em diálise integram a Fase 3, na qual também estão listados cidadãos com outras comorbidades, a exemplo de hipertensão e diabetes.
“Além de ser um paciente grave, com comorbidades e com risco de evoluir para formas graves da doença, é um paciente que não consegue realizar o isolamento de forma adequada porque precisa realizar um tratamento do qual necessita a manutenção da própria vida. Ele tem que se deslocar três, quatro, às vezes, até cinco dias por semana para o centro de terapia substitutiva para realizar esse tratamento, que não pode ser interrompido, mesmo com pandemia ou lockdown”, detalha Moura Neto.
A hemodiálise é um tratamento que realiza a filtragem das substâncias indesejáveis do sangue através de uma máquina. De forma simplificada, o procedimento funciona como um “rim artificial”.
Na regra geral, no entanto, apenas o Ministério da Saúde, enquanto organizador do PNI, poderia fazer uma mudança no nível de prioridade do grupo, no entanto, Moura Neto explica que tem havido diferenças no cumprimento do plano em alguns estados.
“Temos informações de algumas cidades do Maranhão e do Rio de Janeiro, segundo colegas das sociedades de lá, que já estão vacinando esses pacientes. Aqui, estamos esperando uma resposta da Sesab e que eles possam se sensibilizar com essa solicitação. Não é para vacinar os profissionais, mas os nossos pacientes”, pontua.
ÓBITOS E SUBNOTIFICAÇÃO
Dados do Censo de Covid-19 da Sociedade Brasileira de Nefrologia e ABCDT registram oficialmente a ocorrência de 630 óbitos de pacientes em diálise por Covid-19 até este mês de fevereiro, no entanto, como alerta Moura Neto, a subnotificação é um fato e o número real pode chegar a ser três vezes maior que os registrados.
Na Bahia, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado nesta quarta-feira (3), 846 pacientes com doença renal crônica já perderam a vida por complicações da Covid-19. O número é superior ao registrado pelo Censo.
Segundo Neto, das 835 clínicas que prestam serviços a pacientes renais crônicos no Brasil, apenas 30% encaminham as notificações ao levantamento. A Bahia possui 40 clínicas destinadas a essa modalidade de atendimento. Não há ainda dados consolidados relativos aos óbitos de pacientes renais na Bahia.